quarta-feira, 26 de agosto de 2009


Eu sou um poema inacabado
que ninguém nunca leu.

Eu sou a paisagem daquele quadro
que o pintor não terminou.

Eu sou uma tarde quente de verão
em que não choveu.

Eu sou Aquele rio que secou
Antes de alcançar o mar.

Eu sou aquele sonho bonito
que ninguém realizou.

Eu sou a escultura quase perfeita
que caiu da mão e quebrou.

Eu sou aquela paixão gostosa
que por medo, alguém sufocou.

Eu sou o amor que alguém esperava,
mas nunca chegou.

Eu sou metade do que eu desejava ser...
o dobro do que eu nunca esperei!!!


(Clarice Lispector)

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