terça-feira, 24 de agosto de 2010


FOGO&GASOLINA


É tão estranho fugir de si mesmo... não só estranho como difícil também.
Como tirar algo que está entranhado em nós, sem que sintamos aquele terrível vazio na alma?

No começo, houve dúvida, fuga, fingimento, porém é chegada a hora em que o destino põe frente a frente, vilão e mocinho, o gato encontra o rato, ser desejado e desejante...

Ahh destino... algo tão imprevisível, poderia por sua graça e obra propor a nossa inversão de papéis? E se ao invés de ser a presa, fosse eu a caçadora? Se fosses tu, meu objeto de estudo ao invés de ser meu único e mais insano desejo?...

É notório que me deixas confusa, nervosa, infantil, perigosamente tentada, e o pior: perdidamente apaixonada... Tens o inoportuno dom de ler meus pensamentos, e assim me desnuda, desvenda, provoca... Meu tolo coração alerta para que eu fuja, mas já é demasiado tarde, pois todos os meus sentidos me levam a você... Sinto-me como em um labirinto, onde você é o único ponto de partida e de chegada.

Percebo, enfim, que é inútil fugir se esse amor que nos une também nos alimenta, somos sol e lua, noite e dia, fogo e gasolina...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Clarice, DIVA!


Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.

Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.

Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.

Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.

Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.

Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.

Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.

Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.

Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.

Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.

Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.

Já tive crises de riso quando não podia.

Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.

Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.

Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.

Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.

Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.

Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.

Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.

Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade...

Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".

Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.

Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.

Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.

Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.

Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.

Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!

Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!

Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.

Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!

Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.

Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer: - E daí? EU ADORO VOAR!


(Clarice Lispector 1925 - 1977)